segunda-feira, 21 de março de 2011

Dias infernais

Dificilmente alguma coisa nos choca hoje em dia, mas um drama vivido há uma semana por um senhor pacato que presta serviços, na casa de uns amigos, por mais de 16 anos, me deixou simplesmente arrasada.

Perseguido por vizinhos que o hostilizam por questões de terra, Celso (codnome) teve sua casa invadida por sete policiais e preso em flagrante, acusado de ter agredido e quebrado o braço de seu filho de quinze anos, fato noticiado pela mídia local. Recolhido à penitenciária, Celso foi colocado numa cela com mais nove detentos que passaram a torturá-lo, fisica e psicologicamente. Nos dias que passou na prisão não podia dormir, pois cada vez que tentava se recostar na parede ou mesmo sentar, era espancado pelos - se é que se pode chamar assim - companheiros de carceragem.

Ao sair da prisão, por meio de um habeas corpus, Celso não andava e nem falava, tendo que ser internado no Pronto Socorro 28 de Agosto e passar por neurologista e vários exames físicos, após os inúmeros espancamentos e servícias que sofreu. Em face de seu estado, se tivesse ficado mais dois dias nessa situação, certamente não teria sobrevivido.

Intrigante é que o menor, filho de Celso, somente foi ouvido no processamento do habeas corpus e, diversamente da versão dos policiais, contou ter sido jogado contra uma parede ou porta, durante a prisão do pai, pelos policiais, e não por seu genitor como foi divulgado, caracterizando uma espécie de armação.

Mas, independente de tal fato, como uma pessoa primária, de bem, pode ser colocado numa cela de prisão com mais nove seres humanos que praticamente se transformaram em animais? As autoridades responsáveis não sabem que isso acontece? Sinceramente não creio! Comentando a situação com colegas de trabalho, estes disseram que um rapaz, preso a pedido do próprio pai por problemas com drogas, tinha morrido recentemente em consequência de maus tratos similares na prisão.

Até quando isso vai acontecer? Onde estão as organizações de direitos humanos?

* esse texto foi publicado na coluna semanal do Jornal A Critica em 18/03/2011.

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