A crise financeira que assola o mundo vem sendo considerada como uma quebra de paradigma do capitalismo/neoliberalismo - a ponto de ser comparada a 1929, só que noutro contexto, o da era globalizada - e de suas forças motrizes, como a estética descartável e a obsolescência programada, aliadas a economia do desejo, que teriam alcançado seu limite histórico. Tudo isso seria expressão de uma crise estrutural que se vive há três décadas, como conseqüência da expansão desmedida do capital.
Por outro lado, essa situação da economia mundial levou os estudiosos a refletir sobre o que há por trás do consumo produtivo (o que antecede a produção). Assim é que, em contra-ponto ao mito do “consumo consciente”, divulgou-se que é da República do Congo que vem 80% de uma substância denominada “Coltan”, utilizada em celulares, computadores, naves espaciais, etc. (produtos de tecnologia) e que, ao mesmo tempo, é com o dinheiro da sua mercantilização que é financiada a guerra civil naquele país. Difundiu-se, também, que o “nugget” consumido em Paris teria origem na soja de Mato Grosso, advindo de trabalho escravo e desmatamento. Outro fato bastante espraiado foi o valor pago às costureiras chinesas que confeccionam camisetas e que o lucro obtido com o produto equivaleria ao salário de 18.000 delas. Essas práticas desumanas seriam exemplos do “dia-a-dia da fome”, vigente desde o colonialismo, além de caracterizarem representações do capitalismo diabólico.
Tais lacunas invisíveis, a produção capitalista do espaço, a economia simbólica de valores, a dimensão simbólica do consumo, a cultura das pessoas e coisas descartáveis, a destruição e o mau uso do tempo das pessoas, leva a indagação de como o consumo, como classificador social, poderia ser mecanismo da Justiça Cognitiva se a prerrogativa da igualdade não está presente ?
Já se estar a refletir sobre a necessidade da busca de um novo modelo de civilização (crítica à modernidade social – crise final) e que a única solução para o futuro seria a Economia Solidária e um novo modelo de Socialismo, o do Século XXI.
Coluna do Jornal A Crítica de 03/12/2008
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