domingo, 8 de novembro de 2009

A Sociedade de Risco de Ulrich Beck - 12/06/2009

Existe alguma sociedade que não tema a morte, a doença, os incêndios, as inundações, a fome, os temporais, a guerra e até mesmo os efeitos atuais da mudança climática ? As sociedades conhecem todos os riscos que as ameaçam e procuram evitar os danos ? Inserir a luta contra os riscos num programa político, manter uma “relação com os riscos”, quer dizer, uma forma peculiar de enfrentá-los, transformando-os em desafios no intuito de reforçar a democracia, são fenômenos recentes e que se restringem a algumas sociedades.

Os objetivos políticos colocam em primeiro lugar a prevenção e a indenização, enquanto a técnica está a serviço de evitar ou de controlar os riscos. O fato da democracia buscar uma participação dos cidadãos, no que concerne à escolha dos riscos que querem ou não querem correr, é muito mais recente ainda e longe de ser consensual. À medida que a sociedade industrial, baseada na ciência, tecnologia e investimento financeiro, desenvolveu-se, novos riscos apareceram. A partir daí, procura-se as causas, assim como, de acordo com essa metodologia preveni-las, desde que a relação entre uma causa e um efeito for entendida. Os desenvolvimentos da prevenção, da responsabilidade e dos seguros são indicadores de uma modernidade fundada sobre uma análise científica das causas dos danos.

Os riscos naturais, tecnológicos e sociais são agora desafios políticos. Não se trata mais de preveni-los tecnicamente e de indenizá-los; ainda é preciso decidir de forma democrática e assegurar uma distribuição justa, o que foi demonstrado em 1986 por U. Beck. A escolha do lugar de instalação de um incinerador, de uma central nuclear, de um espaço sem OGM, etc. terá conseqüências no que se refere aos empregos, à esperança de vida, à paisagem, à distribuição das riquezas, etc.

A luta contra as desigualdades, motor da mudança política no mundo moderno, está atuando na distribuição dos riscos: o risco, objeto técnico é também objeto político e, conseqüentemente, jurídico. É o esforço aceito por uma sociedade, com o intuito de levar à evolução de seu sistema político, de tal forma que este inclua todas as dimensões do risco do Estado de direito, em vez de rejeitá-lo à margem do direito da responsabilidade e da regulamentação técnica, que a torna “sociedade do risco”.

Coluna do Jornal A Crítica de 12/06/2009

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